sábado, 3 de abril de 2010

Sábado de Aleluia

Tem sido uma Páscoa de reflexão, de solidão, de lembranças e projectos, a minha.
Tento rezar, um rezar conversa com o meu Cristo, mas a cabeça voa para longe e não consigo recuperar as orações que sei (sabia?)de cor e salteado.
O meu coração é um veleiro sobre o mar longínquo, levado pelo vento soprado da paixão, ora nos picos das ondas, ora nas curvas baixas, doridas, depois da rebentação. Lá fora, no meu quintal, a chuva cai em cascata intensa, trazendo frio, aumentando a minha solidão. Então, procuro os meus poetas, os meus livros de sempre, pedindo a Cristo perdão por não ser capaz de ficar rezando...
No meio das minhas releituras, porque nestas alturas sempre me apetece voltar ao já lido, encontrei José Régio:

Quando eu nasci, Senhor, já tu lá estavas,
Crucificado, lívido, esquecido.
Não respondeste, pois, ao meu gemido,
Que há muito tempo já que não falavas...

Redemoinhavam, longe, as turbas bravas,
Alevantando ao ar fumo e alarido.
E a tua benta Cruz de Deus vencido,
Quis eu erguê-la em minhas mãos escravas!

A turba veio então, seguiu-me os rastros;
E riu-se, e eu nem sequer fui açoitado,
E dos braços da Cruz fizeram mastros...

Senhor! eis-me vencido e tolerado:
Resta-me abrir os braços a teu lado,
E apodrecer contigo à luz dos astros!


Ouso, então, dizer: Senhor! Não deixes que eu seja vencida! Não deixes que apodreça à luz dos astros! Senhor! Eu quero cantar a vida!
Aleluia! Aleluia!

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