segunda-feira, 12 de abril de 2010

Sintra


Rostos bem dispostos, mal contida a vontade de partir, pouco convincentes os protestos com a hora de madrugada quase, foi assim que, hoje, encontrei os meus alunos de 11º ano às sete da manhã. Não lhes contei da minha insónia, de como as alergias me deixam exausta, ou sequer dos três Kestines que tomei mal me levantei. Afinal, esperava-nos uma ida a Sintra, ainda por cima na rota de Eça, de mais a mais a reboque de Carlos da Maia.
Começámos o dia num bom autocarro, motorista educado, os namorados a beijoricarem as saudades do fim-de-semana. Sob um sol envergonhado, ora com, ora sem óculos de sol, lá chegámos a Sintra, depois da obrigatória gargalhada em torno da antiga Porcalhota, agora Amadora (ou será ao contrário??...)
Sempre me impressionam as chaminés colossais "talhada às proporções de uma gula de rei que cada dia come todo um reino...", e nunca resisto a exigir a atenção dos meus miúdos para aquele edifício quase disforme. Sem perder o rumo, e o objectivo pedagógico,seguindo Carlos e Cruges, fomos ao Nunes que já não o é e, por isso, não encontrámos o viúvo Euzébiozinho. No entanto, as espanholas estavam por lá. Mais modernas, de shorts e decotes, fotografavam tudo, fazendo concorrência aos constantes japoneses. Decididamente, pensei, o mundo já não é o que era...
Mas nem a velha Lawrence, nem a ausência dos longos bigodes românticos do Alencar me impressionaram com a força com que a vista do velho Palácio da Pena sempre faz.
Nunca fui feliz em Sintra. Ou, com mais exactidão, nunca vivi em Sintra nada que me marcasse de facto. Mas sempre Sintra me emociona, me faz encolher a alma e tremer os sentires. Lá, (aqui também mas com menos intensidade, talvez...), sempre me apetece uma presença cúmplice, um ombro onde me encostar, um abraço forte e único do meu amor ausente. Lá, olhando os verdes jovens, os monumentos rebuscados, as ruas escusas, sempre penso que a vida devia ser talhada assim, de teias de afectos!!
Há mais de dez anos que, com os meus alunos, faço o roteiro Queirosiano de Sintra. E sempre chego a casa, exausta, dorida por dentro, e sentindo que valeu a pena. Que Sintra deveria ser obrigatória no processo de crescer.

1 comentário:

  1. Mãe,
    Sabias que as chaminés do Palácio da vila foram mandadas construir por Phillipa Of Lancaster supostamente inpirada pelos chapéus das damas da corte?
    Adoro-te

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