sexta-feira, 22 de maio de 2020

A NÔ

A minha irmã Nô faria hoje 65 anos. Mais cinco do que eu. A Nô era muito bonita, alegre, bem-disposta, inteligente e vivia rodeada de um montão de amigos. Gostava de dançar, de pregar partidas, de brincar sempre. A Nô, um dia, disse, com a alegria despreocupada dos seus 16 anos, que estava a ver duas imagens e, dois anos depois, morria. Ficou em minha casa, na nossa família, uma cratera que nunca fechou. A tristeza dos meus pais, o vazio, os silêncios, as lágrimas, instalaram-se para sempre. 
Sempre pensei que deveria ter morrido eu, era (sou) calada, reservada, vivia isolada e ninguém dava por mim, teria sido uma dor menor. Há já 47 anos que o 22 de Maio, véspera do Dia da minha Cidade, me faz sofrer. 
As doenças, infelizmente, nunca são justas, mas a que roubou a minha irmã foi mesmo reles e desumana!

Sem comentários:

Enviar um comentário