terça-feira, 5 de maio de 2020

DIA MUNDIAL DA LÍNGUA PORTUGUESA

É a 4ª língua mais falada no mundo, a nossa. Mas deve ser a mais mal falada, a mais desvalorizada e mal-querida. A língua portuguesa, com direito a ser considerada língua, e não simples falar, desde 1536, com a criação da Primeira Gramática, tem, nos últimos anos, sofrido verdadeiros ataques mortais.
Claro que uma língua, estrutura viva e dinâmica, evolui, sofre alterações, transforma-se. Obviamente, a evolução social, o contacto com diferentes realidades, o trabalho dos artistas da língua, impede que esta cristalize no tempo. E é bom, acho eu, que estas transformações naturais aconteçam.
O que seria da língua portuguesa sem Vieira, sem Camilo, sem Eça, sem Saramago, sem Sophia, sem Mia Couto? O que fariam as crianças se não pudessem garotar, o que faria Carlos da Maia, para além de gouvarinhar, num país eternamente atrasado? O que seria dos poetas, se não pudessem poetar?
No entanto, para além destas transformações, há outras que, aos meus olhos de amante da língua portuguesa, doem e ferem, Onde, e o quê, espetarão os espetadores num teatro? O que será tatear no escuro? Como fazer um projeto sem o c? Enfim, tantas alterações que, porque impostas e abru(p)tas, vieram, a meus olhos, adulterar a nossa língua.
Hoje, Dia da Língua Portuguesa, seria um bom dia para ouvir o governo de Portugal reconhecer que o (des)acordo ortográfico falhou e que, por isso, vamos voltar a poder escrever sem erros. Era, acredito, o presente que a Língua Portuguesa mais apreciaria.
Sophia, a minha poeta de eleição, recusava o termo poetisa. Procurava a pureza do significado. Eu, não ouso ir tão longe. Mas não gosto do AO e, por muitos esforços que faça, não consigo compreender um país que diz amar a sua língua e permite que existam dois registos da mesma: - Autores que recusam o AO, e declaram, mesmo publicando obras, que escrevem em desrespeito pelo mesmo; autores que o adoptam. 
Vale tudo, neste Dia da Língua Portuguesa!

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